Presos instituem suas próprias regras e condutas
domingo, 12 de fevereiro de 2012 às 10:14
Depois que O Mossoroense mostrou com exclusividade a comercialização de mercadorias que ocorre dentro das instituições prisionais do Rio Grande do Norte, a equipe de reportagem visitou cadeias públicas e presídios para tentar entender o comportamento dos detentos e as regras básicas criadas por eles para impor sua autoridade na luta pela sobrevivência, onde prevalece a "lei do mais forte".
"Os presos criaram nos presídios suas próprias regras, com comportamento ético entre eles, onde o espaço de um é respeitado por todos. Eles criaram uma sociedade à parte, onde sobrepuja o forte sobre o mais fraco", contou o vice-diretor do Complexo Penitenciário Estadual Agrícola Mário Negócio (CPEAMN), José Wilson Pereira.
Para Wilson, o dia-a-dia nas celas é muito lento e os presos acabam desenvolvendo atividades para matar o tempo e uma delas é desenvolver ações para facilitar o cumprimento da pena. "Eles são criativos, inventam moda para exercer a supremacia do mais forte", explicou.
Uma das principais regras de comportamento desenvolvida é no que se refere à família, considerada entre eles como algo sagrado, acima de qualquer outra coisa. "Os presos presam muito os familiares e isso pode ser visto em um dia de visita, quando os familiares chegam", contou.
O vice-diretor disse que nos dias de visitas, os presos sabem com antecedência quem deles receberá a família e vão recepcionar os parentes na quadra, destinada ao banho de sol. "Nesse momento de receber as visitas no regime fechado, a gente vê uma coisa interessante: o detento que não tem ninguém para o visitar fica de frente para a parede e de costas para os familiares dos presos. Essa atitude para eles é uma forma de respeito com as esposas e filhos dos colegas e aquele que ousar faltar com respeito paga caro. É a lei deles", disse.
O vice-diretor lembra de um episódio que aconteceu recentemente, quando em um dia de visita íntima, um detento ficou espiando o colega no ato amoroso com a esposa. Na ocasião, os presos esperaram a visita terminar e foram acertar contas com o curioso, que só não apanhou até a morte devido a intervenção dos agentes penitenciários que ouviram os gritos e retiraram o apenado da cela.
"As leis e regras criadas pelos presos são cumpridas rigorosamente e, assim como em toda sociedade, os infratores são punidos, só que dentro das prisões o castigo é a morte dos desobedientes e isso infelizmente não se pode fazer nada, apesar de fiscalizarmos direto essa conduta", ressaltou.
Atualmente o CPEAMN conta com uma população carcerária de 459 presos, divididos entre o regime fechado e o semiaberto, tanto masculino quanto feminino. São 277 presos na ala fechada, 130 no semiaberto, da unidade masculina, e 34 mulheres no fechado e 18 no aberto.
Dificuldade
Para José Wilson, a maior dificuldade enfrentada pela direção da unidade é a falta de pessoal. São apenas seis agentes e sete policiais militares trabalhando por dia para dar conta de uma área de terra de 600 hectares, correspondente a penitenciária.
"Para que nós trabalhássemos dentro dos conformes, precisaríamos de 30 agentes e 15 policiais diariamente. É uma deficiência muito grande que enfrentamos", concluiu.
"Tem momentos em que até parece que eles estão falando uma espécie de língua de outro país, totalmente alheia ao português. São jargões, gírias, paródias usadas pelos apenados para explicar a dura realidade nas prisões", disse o agente.
Para matar um pouco dessa curiosidade, O Mossoroense conversou com alguns apenados, que revelaram o significado de alguns termos, veja ao lado:
"Os presos criaram nos presídios suas próprias regras, com comportamento ético entre eles, onde o espaço de um é respeitado por todos. Eles criaram uma sociedade à parte, onde sobrepuja o forte sobre o mais fraco", contou o vice-diretor do Complexo Penitenciário Estadual Agrícola Mário Negócio (CPEAMN), José Wilson Pereira.
Para Wilson, o dia-a-dia nas celas é muito lento e os presos acabam desenvolvendo atividades para matar o tempo e uma delas é desenvolver ações para facilitar o cumprimento da pena. "Eles são criativos, inventam moda para exercer a supremacia do mais forte", explicou.
Uma das principais regras de comportamento desenvolvida é no que se refere à família, considerada entre eles como algo sagrado, acima de qualquer outra coisa. "Os presos presam muito os familiares e isso pode ser visto em um dia de visita, quando os familiares chegam", contou.
O vice-diretor disse que nos dias de visitas, os presos sabem com antecedência quem deles receberá a família e vão recepcionar os parentes na quadra, destinada ao banho de sol. "Nesse momento de receber as visitas no regime fechado, a gente vê uma coisa interessante: o detento que não tem ninguém para o visitar fica de frente para a parede e de costas para os familiares dos presos. Essa atitude para eles é uma forma de respeito com as esposas e filhos dos colegas e aquele que ousar faltar com respeito paga caro. É a lei deles", disse.
O vice-diretor lembra de um episódio que aconteceu recentemente, quando em um dia de visita íntima, um detento ficou espiando o colega no ato amoroso com a esposa. Na ocasião, os presos esperaram a visita terminar e foram acertar contas com o curioso, que só não apanhou até a morte devido a intervenção dos agentes penitenciários que ouviram os gritos e retiraram o apenado da cela.
"As leis e regras criadas pelos presos são cumpridas rigorosamente e, assim como em toda sociedade, os infratores são punidos, só que dentro das prisões o castigo é a morte dos desobedientes e isso infelizmente não se pode fazer nada, apesar de fiscalizarmos direto essa conduta", ressaltou.
Atualmente o CPEAMN conta com uma população carcerária de 459 presos, divididos entre o regime fechado e o semiaberto, tanto masculino quanto feminino. São 277 presos na ala fechada, 130 no semiaberto, da unidade masculina, e 34 mulheres no fechado e 18 no aberto.
Dificuldade
Para José Wilson, a maior dificuldade enfrentada pela direção da unidade é a falta de pessoal. São apenas seis agentes e sete policiais militares trabalhando por dia para dar conta de uma área de terra de 600 hectares, correspondente a penitenciária.
"Para que nós trabalhássemos dentro dos conformes, precisaríamos de 30 agentes e 15 policiais diariamente. É uma deficiência muito grande que enfrentamos", concluiu.
Presos criam linguagem própria para escapar da fiscalização de agentes penitenciários
Mesmo trancados em uma cela das inúmeras prisões brasileiras, presos de todo o país passaram a criar linguagem própria para tentar escapar da fiscalização dos agentes penitenciários e assim camuflar as irregularidades típicas das prisões. Nas instituições penais de Mossoró existe uma espécie de vocabulário próprio, que muitas vezes apenas os idealizadores entendem.
São palavras de duplo significado, usadas para se comunicarem entre si, sem que os agentes interfiram na conversa. Geralmente essas palavras são para realização de negociatas ou esconder objetos ilegais dentro das celas, tipo celulares, armas e drogas.
Quando um agente penitenciário se aproxima das celas, eles começam a bater na grade e falar para os demais companheiros: "olha o óleo, olha o óleo". Esse palavreado é para anunciar que a fiscalização está chegando e o "óleo" é uma alusão ao agente, que usa fardamento preto. E, se o agente se aproxima acompanhado de alguém, eles gritam: "óleo recheado".
Outro termo usado pelos presos para se referir aos agentes é o de "cururu", uma alusão ao sapo que para muita gente é um bicho asqueroso e nojento. "Com o passar do tempo nós vamos aprendendo o linguajar dos presos e eles vão criando outros termos. É um vocabulário que sempre se renova", explicou um agente penitenciário que não quis ser identificado por questões de segurança.
Para se referirem ao aparelho celular, objeto de luxo em uma prisão, os apenados costumam se referir ao "rádio". Sintonizar o rádio é o mesmo que dizer para fazer uma ligação telefônica de dentro para fora da cadeia. Assim como "sazom" quer dizer droga e "papagaio" significa dedo duro ou cabueta (alcaguete), ou seja, o que fala demais.
São palavras de duplo significado, usadas para se comunicarem entre si, sem que os agentes interfiram na conversa. Geralmente essas palavras são para realização de negociatas ou esconder objetos ilegais dentro das celas, tipo celulares, armas e drogas.
Quando um agente penitenciário se aproxima das celas, eles começam a bater na grade e falar para os demais companheiros: "olha o óleo, olha o óleo". Esse palavreado é para anunciar que a fiscalização está chegando e o "óleo" é uma alusão ao agente, que usa fardamento preto. E, se o agente se aproxima acompanhado de alguém, eles gritam: "óleo recheado".
Outro termo usado pelos presos para se referir aos agentes é o de "cururu", uma alusão ao sapo que para muita gente é um bicho asqueroso e nojento. "Com o passar do tempo nós vamos aprendendo o linguajar dos presos e eles vão criando outros termos. É um vocabulário que sempre se renova", explicou um agente penitenciário que não quis ser identificado por questões de segurança.
Para se referirem ao aparelho celular, objeto de luxo em uma prisão, os apenados costumam se referir ao "rádio". Sintonizar o rádio é o mesmo que dizer para fazer uma ligação telefônica de dentro para fora da cadeia. Assim como "sazom" quer dizer droga e "papagaio" significa dedo duro ou cabueta (alcaguete), ou seja, o que fala demais.
"Tem momentos em que até parece que eles estão falando uma espécie de língua de outro país, totalmente alheia ao português. São jargões, gírias, paródias usadas pelos apenados para explicar a dura realidade nas prisões", disse o agente.
Vocabulário próprio de presos chama atenção das direções dos presídios
Criado para tentar enganar as direções dos presídios, o vocabulário dos presos tem sido motivo de preocupação nas instituições penais espalhadas pelo Rio Grande do Norte. São frases restritas apenas aos detentos, que se tornaram curiosas para quem não vive a realidade das celas.
Para matar um pouco dessa curiosidade, O Mossoroense conversou com alguns apenados, que revelaram o significado de alguns termos, veja ao lado:
Vocabulário
Internet: buraco cavado nas paredes que ligam uma cela a outra, por onde circulam drogas e informações.
Óleo: agente penitenciário.
Cururu: pessoa indesejada, nojenta.
Papagaio: aquele que fala muito.
Sazon: drogas.
Rádio: aparelho celular;
Parlatório: lugar circundado de pano, reservado para receber visita íntima.
Cachanga: cama de dormir.
BR: dormir no chão.
Recheado: intruso chegando.
Boy doido: testa de ferro dos líderes.
EmbaÇAdor: aquele que complica a situação.
Internet: buraco cavado nas paredes que ligam uma cela a outra, por onde circulam drogas e informações.
Óleo: agente penitenciário.
Cururu: pessoa indesejada, nojenta.
Papagaio: aquele que fala muito.
Sazon: drogas.
Rádio: aparelho celular;
Parlatório: lugar circundado de pano, reservado para receber visita íntima.
Cachanga: cama de dormir.
BR: dormir no chão.
Recheado: intruso chegando.
Boy doido: testa de ferro dos líderes.
EmbaÇAdor: aquele que complica a situação.
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