Março foi o pior dos últimos 25 anos, em volume de chuva no RN
segunda-feira, 16 de abril de 2012 às 13:54

Homens como o agricultor Antônio Ambrósio, do sertão do Seridó, depositam as esperanças em Deus. "Só a Ele a gente pode recorrer nessas horas de sofrimento", diz o agricultor A falta de chuva traz outras consequências que não estão restritas à lida do campo. Em algumas cidades, falta água nas torneiras e a procura pelo líquido essencial à vida causa transtornos e desespero. Açudes estão secando e obras de adutoras, que poderiam amenizar o problema, estão paradas há muito tempo. Na última quinta-feira o Governo do Estado decretou Estado de Emergência em 139 municípios do RN.
Estiagem é considerada a pior dos últimos anos
"O mês passado, em termos de precipitações, foi o pior nos últimos 25 anos. Tivemos índice zero de chuva em vários municípios. Por isso estamos vivendo essa situação de emergência", diz Antônio Carlos Magalhães Alves, coordenador de agropecuária da secretaria de Estado da Agricultura, da Pecuária e da Pesca (Sape). A afirmação do servidor público é corroborada pelo depoimento de pequenos agricultores e pecuaristas. No assentamento Boa Sorte, localizado no município de Acari, região Seridó, Antônio Ambrósio dos Santos, 55 anos, conta que "ainda tem fé em Deus que as coisas vão melhorar este ano". Em fevereiro, Antônio plantou meio hectare com milho. A pouca chuva que caiu naquele mês não foi o suficiente. Com a estiagem no mês seguinte, a roça não vingou. "Está com tempo que não vejo uma seca dessa, meu filho. Perdi tudo que plantei. Agora é esperar por Deus que venha uma chuvinha nesses dias", completou. Sem receber aposentadoria, Antônio Ambrósio sustenta mulher e três filhos com o pouco dinheiro que recebe vendendo leite. São apenas cinco vacas que produzem cerca de sete litros por dia. Cada litro é vendido por R$ 0,75. "Ainda bem que a comida para as vacas ainda consigo tirar, mas a água é pouca. Se as coisas não melhorarem, não sei como vai ficar", comenta.
A mais de 200 quilômetros do roçado de Ambrósio, no sítio Lagoa do Mato, localizado no município de Luís Gomes, Alto Oeste do RN, encontramos outros personagens que dividem a mesma história de luta, perdas e fé. A plantação de milho, à primeira vista, é bonita e chama atenção. Mas Francisco Raimundo da Silva, 77 anos, logo explica que o trabalho de arar, adubar e plantar foi em vão. Além do milho, o agricultor também plantou feijão. "Do milho, não vou conseguir colher nada. O feijão vai servir pelo menos para gente comer com a família, mesmo assim, será pouca coisa", explica. No sítio onde Francisco mora e produz, não há irrigação. O abastecimento d'água é feito através de carros-pipa. "Vem um a cada oito dias e às vezes passa semana sem vir", diz. A estiagem afeta agricultores e criadores de gado.
Em Pilões, município distante 390 quilômetros de Natal, o açude que abastece a cidade está com pouco mais de 10% de sua capacidade total. Por causa disso, moradores da zona rural temem os próximos dias. No sítio Volta, o pecuarista Raimundo Cícero de Oliveira, 52 anos, vê a pequena barragem secar. Quase não há água. O gado que antes era motivo de orgulho para o criador, começa a preocupá-lo. "Quando acabar essa água da barragem, o que vou fazer? Como vou matar a sede desse gado? Não vejo solução. O jeito vai ser meter bala na cabeça dos bichos e ir embora, deixar tudo para trás", desabafa emocionado.
Devido ao cenário atual, conhecido como "seca verde", o Governo do Estado, através do Decreto de nº 22.637, declarou, na última quinta-feira, situação de emergência em 139 municípios, o que corresponde a 82% dos 167 do RN. Durante o período do decreto dura 90 dias, passível de prorrogação por igual período. Órgãos do Sistema Nacional de Defesa Civil, sediados no Estado, ficam autorizados a prestar apoio suplementar aos municípios afetados pelo desastre natural, mediante prévia articulação com a Codec.
Fonte: V&C
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